A única coisa que sabemos sobre o silêncio é que ele se opõe ao som e, nessa ausência de ruído, fala, fala sem parar, e nos fala. Sabemos perfeitamente a delicadeza e a brutalidade com que sua verbosidade é capaz de agir. Mas se fosse a única linguagem capaz de dizer alguma coisa, por que as palavras foram inventadas? Sabendo o que o silêncio é capaz de dizer — e o que ele diz é precisamente o que não pode ser dito, o que não pode ser ouvido —, as palavras, e com elas, a literatura, foram inventadas para cercá-lo.
Poesia, ficção, pensamento e sentimentos encontram uma maneira de filtrar o silêncio nas palavras. Eles nos transmitem sua mensagem do absoluto, nos fazem sentir o tempo, nos dão informações sobre a escuridão, mas apenas através das palavras: até aquele ponto. Para que não nos cheguem puras, mas em nome da palavra. silêncio .
A literatura compreende seu poder e prestígio sem inveja, e nós, leitores, sabemos — talvez seja a única coisa que sabemos — que, quando lemos, o que se torna presente nas palavras que fluem como um rio é o silêncio de onde elas vêm e o silêncio para onde elas vão.
Nestes quatro dias, o convite é ouvir a poesia do que o silêncio expressa.
